segunda-feira, 10 de maio de 2021

"Dona Ivoneide, você não tem medo de defuntos?" Matéria na TV Jangadeiro sobre colecionadora de "santinhos" Mª Ivoneide


Mª Ivoneide Gois da Silva.

"Santinho" coletado e colecionado por Ivoneide. Incluso no livro de sua autoria "Territórios da Memória: Poço da Draga".

A finitude, como “um dos grandes perigos biossociais na vida humana”, a qual todos nós estamos sujeitos, ainda é um dos grandes mistérios da nossa existência. A morte do outro, como nos alerta Elias (2001, p. 17), é “uma lembrança de nossa própria morte”, o que pode ser algo extremamente desconfortável e até assustador de se falar a respeito, mas, no emaranhado de emoções e processos que a morte desperta,há também o carinho e afeto por aqueles que partiram. 

Em matéria exibida no Programa “Todo Mundo Ama” da Tv Jangadeiro, filiada ao SBT, Maria Ivoneide Gois da Silva nos fala um pouco sobre a relação com a temática e como ela guarda a memória dos que se foram. 

 Apresentando o livro “Territórios da Memória: Poço da Draga”, publicado em 2019, em colaboração com o Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos, Ivoneide, que é moradora do Poço da Draga, compartilha o acervo de santinhos, juntamente com suas lembranças do bairro. 

A autora do livro conta que o “hobbie” de colecionar santinhos (pequenos cartões enquanto carta dos mortos: neles se insere uma fotografia e uma mensagem de esperança sobre a pessoa recém falecida, assim como seu nome e suas datas de nascimento e morte) começou aos 14 anos, no coral da Igreja Catedral, quando era chamada para cantar nas missas de sétimo dia das figuras mais importantes da cidade. Nas cerimônias, era e ainda são muito comuns a distribuição desses santinhos dos falecidos, como um pedaço das pessoas queridas que podemos guardar. 

Historiadora dos famosos “santinhos de defunto”, como apresentada na matéria, Ivoneide mantém viva décadas de lembranças do Poço da Draga, a partir desses pequenos papéis que registram o falecimento dos moradores do bairro. Como ela diz, são “uma recordação mesmo, né? De saber que essas pessoas, a maioria, são pessoas que moraram aqui na comunidade... Que eu conheci, que eu convivi e que deixaram seu legado...”. 

Notamos, assim, que os santinhos que Ivoneide coleciona não são só atestados de uma morte, mas principalmente evocações de uma vida, retalhos que, ao serem montados em um conto coletivo, remontam e perseguem a história em uma geografia do corpo e do afeto que não só preenche como cria espaços como o Poço da Draga. Ivoneide, enquanto artesã, repensa os modelos dessas cartas físicas como encaixes que articulam um corpo de história, tencionando as presenças e as lembranças, as despedidas e o esquecimento na procura do tempo perdido, pois como nos diz Gagnebin (2006, p. 192): “num sentido ao mesmo tempo paradoxal e trivial, gostaria de dizer que os homens não são animais tão específicos porque possuem uma memória: mas somente porque se esforçam em não esquecer”. 

*Ângela Elizabeth Ferreira de Assis; Lara Pontes Juvêncio Pena, bolsistas pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos - UFC.

ELIAS, Norbert. A Solidão dos Moribundos. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.

Assista a matéria abaixo ou clique aqui para ser redirecionado.

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