O tema Cidade, Cidadania? foi refletido hoje, com a participação
do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos na PUC -Minas, em parceria com
o Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC-Minas. O Seminário teve como
objetivo integrar os estudantes dos semestres iniciais do Instituto de Ciências
Humanas e Ciências Sociais. A Professora Terezinha Taborda abriu as discussões
com um poema de Manuel Bandeira: "O bicho", depois com o um conto
de Marcelino Freire, chamado Muribeca - publicado no livro Angu de Sangue- e fez considerações sobre as definições
de cidade e as reflexões teóricas de Michel de Certeau e Richard Sennet sobre a
cidade como projeto utópico e civilizador e as rasuras desse processo,
apresentando imagens da cidade de Belo Horizonte-MG.
Em seguida a Profa. Cristina Maria da Silva, coordenadora do Rastros Urbanos,
apresentou o projeto de extensão Fotobiografias: a Fortaleza que se conta em acervos
fotográficos pessoais, com imagens e reflexões sobre quem tem direito à cidade
e quem define quem tem direito ou não para refletir sobre a questão da
cidadania. São sobretudo, as mulheres as guardiãs das imagens capturadas
e delas também as narrativas sobre as memórias e história dessa parte da
cidade e seus vínculos com a cidade de Fortaleza-CE. O Prof. Mateus Pimpão,
angolano, doutorando em letras PUC-MG apresentou reflexões sobre Luanda, sua cidade
natal. Mostrando a cidade do cartão postal e a cidade das experiências e
vivências, através das experiências de vida das "zungueiras", as
mulheres vendedoras ambulantes e as perseguições e violências cotidianas contra
elas. Também retomou a história de Deolinda Rodrigues, uma defensora dos
direitos humanos em Angola. Através da música Mama Zungueira do Mister Vip,
pudemos ouvir "O que seria dessa cidade sem você?"
A Profa. Helen Abrantes, doutoranda em letras na PUC-MG fez uma narrativa sensível do projeto Calma, Clima em Belo Horizonte, um coletivo que incentiva que as mulheres possam correr juntas na cidade, como uma forma das mulheres ocuparam o seu espaço da cidade. Helen de maneira criativa e emocionante foi percorrendo os inúmeros desafios diários das mulheres nas vida cotidiana da cidade: a jornada, algumas vez tripla, entre o trabalho e a vida profissional, os afazeres domésticos e o cuidado com a família. Apesar do voto da conquista ao direito ao voto, ainda é limitada a participação das mulheres no cenário político como representantes. Mesmo na Universidade, apesar das mulheres somarem 72 % das que mais produzem no país e de praticamente dividirem a liderança dos Diretórios de Pesquisa no país. Será que as mulheres já têm de fato um lugar nas cidades?
Entre uma palavra e outra, Helen respirava, convidando-nos a uma
pausa. É preciso respirar! Será que na correria cotidiana, fugindo dos
assédios, das agressões físicas, das demandas familiares, as mulheres conseguem
esse tempo para respirar e serem o que desejam ser?
Será que apesar das leis que criam vagões separados para as
mulheres não sofrerem assédios nos trens, nas leis de proteção como a Maria da
Penha, lei nº 11.340/2006, as mulheres
estão de fato seguras e podem correr livremente pela cidade?
Jefferson Medeiros, do mestrado de letras, apresentou
o álbum Ladrão do rapper de Belo Horizonte, Djonga. Jefferson nos levou a
pensar em como através da letra do rap, percebemos a linhas abissais de resgate
de um lugar de emancipação na cidade. Da letra extraímos:
"Eu vou roubar o patrimônio do seu pai. Dar
fuga no Chevette e distribuir na favela
Não vão mais empurrar sujeira pra debaixo do
tapete E nem pra debaixo da minha goela, eu sou ladrão.!
(....)
Pronto para roubar o patrimônio do cuzão
Que só se multiplica e ele não sabe dividirSe me vê no rolê, vem com crítica vazia
Mano, ao invés de crescer tenta me diminuir."
Um ladrão pós- colonial? provoca Jefferson. Para
ele, uma letra que nos instiga a pensar em um outro mundo possível, para além
das ausências. Um mundo de emergências, lembrando de Boaventura de Sousa
Santos. Isso pode ser visto ainda nas palavras do rapper:
"Ultrapassei essas barreiras ileso, porra!
Vai pensando, os fiel da sua área falando
espanholNão só com a peita da Espanha
As irmã de cabelo sarará criolo sem ser considerada estranha...."
De modo sensível, Jefferson ressalta como a
solidão da mulher negra na cidade é muito maior do que a da mulher
branca. Das narrativas, destacou-se, principalmente, a
pergunta sobre o lugar da mulher na cidade, como ouvir suas vozes? na música, nas fotografias, nos desenhos, nas
caminhadas nas ruas...As falas em suas diversidades integraram os
estudantes dos cursos de Ciências Sociais, Letras, História, Geografia e
Pedagogia, levando-os a pensar em como a cidade e as experiências urbanas são
diversas, mas também fazendo com que eles se vissem nas projeções e nas falas,
como negros, como mulheres e em seus diferentes pertencimentos na cidade. O
evento nos fez refletir também como docentes, como a Universidade é diversa nos
últimos anos e que precisamos saber ouvir suas vozes e que elas cada vez mais tenham direito à cidade e aos espaços da Universidade.
https://www.youtube.com/watch?v=6u9hxVHQhlA
https://www.youtube.com/watch?v=GGq1erysWr4
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ResponderExcluirPude agora (seria um momento de respirar?), após uma semana do evento e muitas tarefas (que nos fazem sempre correr. Por quê?), apesar de ter lido o texto do blog na data de publicação, registrar minha alegria em conhecer a coordenadora do projeto Rastros Urbanos, a Profa. Dra. Cristina Maria da Silva. Aprendi muito com o seminário e com a fala da pesquisadora. Ressalto a sua capacidade peculiar: aliar conhecimento e sensibilidade. Nada escapa a sua retina perspicaz, diria: a sua retina poética. Isso me lembrou da crônica de Otto Lara Resende "Vista cansada", que nos provoca quanto às nossas vistas habituadas ao cotidiano. A profa. Dra. Silva nos instiga a desabituar nosso olhar.
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