quinta-feira, 13 de junho de 2019
Caligrafias da existência: narrativas de Moçambique em Mia Couto
Resumo: Propomos pensar os encontros entre escrita e oralidade através das obras Terra Sonâmbula e Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra do escritor Mia Couto. A terra e o rio são metáforas da recordação, falas e suportes da existência. Neles se inscrevem caligrafias da existência, nas quais os espaços da recordação, conforme define Assmann, aparecem inscritos nas tramas dos personagens. Esses se desvelam como metáforas, que se dão na escrita como vestígio da cultura, na imagem (sobretudo as fotografias, as lembranças e os sonhos), nas escritas do corpo e na memória dos lugares. Mia Couto inscreve em sua literatura narrativas sobre Moçambique. Sua literatura se avizinha da oralidade e percorre o chão da cozinha, de onde ouve histórias contadas aos sussurros, em um mundo doce e mágico, no qual convivem vivos e mortos, caminhantes e sobreviventes. Nas letras dos sonhos inscritas nos Cadernos de Kindzu, nas cartas lidas por Mariano, encontramos as “páginas da terra”, que têm sotaques que pedem para serem ouvidos. Os corpos se estendem aos artefatos, como a casa, os álbuns de fotografias, e nos cadernos e nos sonhos se inscrevem as práticas de escrita das relações e, por assim dizer, da própria memória. Palavras-chave: Espaços da recordação. Narrativas. Memória. Literatura moçambicana.
Calligraphies of existence: Narratives of Mozambique in Mia Couto´s literature
Abstract
We propose to consider the encounters between writing and orality in the books Sleepwalking Land and A river called time, by Mia Couto. The land and the river are metaphors of remembrance, speeches and supports of existence. They have been inscribed with the calligraphy of the existence, in which the spaces of remembrance, as defined by Assmann, are inscribed in the plots of the characters. These are revealed as metaphors, which are given in writing as a vestige of culture, in the image (especially photographs, memories and dreams), in the writings about the body and in the memory of places. Mia Couto performs these inscriptions through his narrative literature about Mozambique. His literature is close to orality as he walks on the kitchen floor, where he hears stories told in whispers, in a sweet and magical world in which the living and the dead, walkers and survivors live together. In the words of the dreams inscribed in the Notebooks of Kindzu, in the letters read by Mariano, we find the “pages of the land”: they have accents that ask to be heard. Bodies have their existence poured into artifacts, such as the house, photo albums, in the notebooks and dreams, in which the practices of the writing of relationships and of memory itself are inscribed. Keywords: Spaces of Remembrance. Narratives. Memory. Mozambican Literature.
Recebido: 27/01/2019 Aceito: 07/04/2019
http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/issue/view/1081
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