II Mostra
Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas
Sessão: Narrativas,
Desejos e Moralidades.
Os Contos
Proibidos do Marquês de Sade
(Alemanha, EUA e Inglaterra, 2000, Dir. Philip Kaufman)
(Alemanha, EUA e Inglaterra, 2000, Dir. Philip Kaufman)
A
película narra os últimos dias da vida do Marquês de Sade, famoso por seus
escritos eróticos, em um hospício. A literatura do Marquês tem grande impacto
sobre a sociedade da época, suscita a fúria de uns e a descoberta de um mundo
para outros. Mas afinal, sobre o que o Marquês de Sade escreve?
Segundo
ele próprio: eu escrevo sobre as grandes
verdades que unem toda a humanidade, todo mundo. Em outro momento ele diz: eu não invento a realidade, eu a apenas
conto. A produção literária do Marquês de Sade pode ser lida como sendo ao
mesmo tempo expressão e subversão de uma época, marcada pelo controle repressivo
do corpo e da sexualidade, realizada, sobretudo, através da instituição
religiosa. Os textos do Marquês de Sade nos dão noção de como essas construções
socioculturais se inscrevem em sua época, mas também de como a literatura aparece como um acontecimento,
causa reações sobre o mundo, pelo cenário que se constitui, num “como se’ da
realidade, nas palavras de Silva (2009).
Segundo
o Dr. Royer – Collard (Michael Caine) Os livros do Marquês são um insulto às pessoas decentes do mundo.
A Igreja católica manda silenciar o escritor uma vez que seus contos trazem
consigo personagens do próprio clero como protagonistas. Por exemplo, um bispo
que assedia uma moça, história narrada logo no início do filme. Embora todo o pudor à “prosa incendiária” do
Marquês, seus livros, de acordo com Madeleine (Kate Winslet) “vendem como
água”. As pessoas consomem avidamente sua prosa. Em uma das cenas podemos ver
um rapaz lendo trechos do livro Justine em
voz alta no meio da rua. Outra prova disso é quando Madeleine (Kate Winslet)
está contando a história de Justine para os amigos à noite, uma das empregadas
do Hospital psiquiátrico os censuram por eles estarem lendo “aquelas
obscenidades”. Imediatamente, Madeleine dispara: ninguém está te obrigando a ouvir. E a empregada permanece ouvindo
a história, atentamente...
A
jovem Simone (Amélia Warner) vivia em um convento sob os cuidados das freiras. Órfã,
sem recursos, desde cedo soube que estava prometida para se casar com um homem
mais velho. O que seria uma fuga de um destino de miséria para ela tornou uma
prisão que, apesar de possuir sedas e candelabros, continua sendo uma
prisão. Casada com o Dr. Royer – Collard, a jovem cultiva o hábito da
leitura. Curiosamente, lê Justine,
obra do Marquês de Sade, chegando até o ponto de memorizá-la inteira. Dessa
forma, Simone (Amélia Warner) é atingida pelo texto de tal forma, que desperta
o desejo da fuga de um casamento arranjado e a descoberta do corpo, da
sexualidade investida nos braços de seu amante, o arquiteto responsável pela
reforma de sua casa.
*Bruno Duarte
Rastros Urbanos
REFERÊNCIAS
SILVA,
Cristina Maria da. Rastros das
socialidades: Conversações com João Gilberto Noll e Luiz Ruffato.
(Doutorado em Ciências Sociais) Programa de Pós – Graduação em Ciências
Sociais. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
*Texto escrito por ocasião da II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas, durante as sessões organizadas pelo Grupo Rastros Urbanos. O evento fez parte da programação da abertura do semestre letivo 2013.1 do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará - UFC.
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