segunda-feira, 11 de março de 2019

Exposições fotográficas no Poço da Draga: Habitar é Deixar Rastros...



Exposição: Habitar é deixar rastros

    Em 27 de Maio de 2017 participamos do aniversário de 111 anos do Poço da Draga (Fortaleza/CE) com a exposição: Habitar é deixar rastros. Nosso objetivo era narrar através das fotografias o cotidiano no Poço da Draga. A ideia era devolver algumas das imagens encontradas, bem como evocar as memórias escutadas. Selecionamos algumas imagens e as dispomos no pavilhão. Ao sopro dos ventos e das mãos que as tocavam, aos poucos fomos ouvindo: "Eu era uma dessas crianças, que estudava com as irmãzinhas!"; "Eu lembro dessa época!". Desde o início do projeto da Pró-Reitoria de Extensão da UFC (Universidade Federal do Ceará), em 2016: "Fotobiografias: uma Fortaleza que se conta em acervos fotográficos pessoais", tomamos os álbuns fotográficos como arquivos (do grego arkhé- começo) a partir dos quais é possível cartografar além dos mapas e traços da cidade, as experiências. “Habitar significa deixar rastros”, (2009, p.46) já nos apontava Benjamin, no livro das passagens. Os rastros do morador estão presentes em seus objetos e em como ele registra sua vida durante suas experiências cotidianas. As fotografias são uma forma de grafar ou jogar luz sobre aquilo que é mais importante para cada trajetória. O que atravessou uma vida, mas o que sobrevive ainda na memória e consegue existir em palavras nas narrativas compartilhadas. Ao seguirmos fotografias, percorremos a cidade por esses rastros e os indícios que eles apontam sobre o vivido e que faz parte da história do lugares. 


   O tempo das fotografias é como agulha e linha cosendo o tecido dando-lhe forma e tornando-o visível nas suas estampas. Álbuns, fotos avulsas, impressas, digitais, que paisagens eles nos dão, de que tempos nos falam? Quem ou o que se dá para nós nessas imagens? O que de tantos outros se faz presente nas imagens que se montam diante de nossos olhos? O que herdamos com as imagens que chegam até nós e se aconchegam aos nossos cuidados? O que elas nos dão quando são dedicadas, enviadas ou compartilhadas? Que afetos nelas se abrigam? Fotografias unidas ou dispostas ao acaso em nossas mãos são uma tessitura onde nem sempre vemos quem segura a agulha e a linha, mas a existência se tece em nós. A existência da cidade se apresenta com suas experiências de vida, com as memórias e narrativas, que muitas vezes, sequer são conhecidas.


Guardiões da Memória.

     No aniversário de 112 anos, propomos que a exposição poderia ser feita em diálogo com o momento Guardiões da Memória. O momento no qual moradores que estão há mais tempo no Poço falam de suas vidas e trajetórias. Montamos a exposição fotográfica chamada: Mapas Afetivos do Poço da Draga, na Casa da Dona Iolanda, na qual ela falou de suas memórias. As fotografias não foram dispostas na parede e nem no Pavilhão, nós as montamos em formato de cubos para que elas girassem nas mãos das pessoas enquanto Dona Iolanda falava e as pessoas a escutavam. As fotos foram dispostas de acordo com temas que temos ouvido nas narrativas: as águas, as casas, os mortos, a rua e os quintais. As imagens podia sem tocadas, como uma pele, que a cada toque exala o riso, as lágrimas, volta ao passado e encontra os seus, volta ao presente e encontra aqueles que estão diante de si esperando que suas palavras contem como as trajetórias montaram o existente. A cada movimento das fotografias nas mãos da Dona Iolanda, um sorriso, uma lágrima, a voz firme ou embargada pelo choro. O acontecimento diante de nossos olhos era ação da memória, mas diante dela e a cada montagem fotográfica era uma aparição, que somente Dona Iolanda conseguia ver e nos contar. 


Dia das Crianças no Poço. 


    No dia 13 de dezembro, em comemoração ao dia das crianças, o Instituto Iracema, fez uma programação dentro da Ação Praia de Brincar e nos pediu uma palestra sobre o nosso trabalho no Poço. Como a atividade era para ser realizada com crianças Alana Brandão sugeriu que fizéssemos um jogo da memória para ser brincado com eles. Reunimos as fotografias que mostram o pavilhão, a piscininha, as casas ainda de taipa, as jangadas, as crianças brincando de pular da ponte velha, as últimas habitações feitas sobre a ponte, as ruas alagadas por conta das chuvas e os pescadores. Fizemos os pares para que as crianças tivessem acesso à essas histórias. Foi bem impressionante perceber como eles, entre oito e dez anos, já conseguem visualizar e reconhecer esses lugares, até mesmo diziam: "Aqui é bem perto da sua casa!", apontando para outro colega. ou "é aqui onde eu moro!". Fizemos e levamos também um mapa para que eles brincassem de desenhar nele, um mapa mais afetivo que cartográfico, pois algo que temos aprendido é que o lugar nem sempre consegue ser registrado apenas pelo mapeamento geográfico, as narrativas que temos escutando suscitam lugares, pessoas e um movimento constante entre memórias e afetos que nos permitem dizer que os territórios são vivos e e sempre transbordam o que dele já conhecemos. Já nas crianças é forte a compreensão acerca do lugar habitado, muito mais permeadas pelos afetos, pela imaginação e pela espontaneidade de quem nos leva a conhecer um Poço que é constantemente criado, imaginado e resinificado por seus moradores.




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